terça-feira, 7 de junho de 2011

O GATO SELVAGEM

LEIA UMA PARTE DO LIVRO

"Então um homem atirou com seu arco ao acaso e atingiu o rei de Israel entre as juntas e a couraça... O san­gue de seu ferimento correu no interior do carro... Assim morreu o rei..."
Primeiro Livro dos reis.


   Francisca, disse meu pai, olhando com um ar abatido as pontas de cigarro amassadas no cinzeiro, a vida é tão bela!
   Sim, papai.
   Não crês?
   Não, papai.
   Por que não sorris?
   Não tenho de que sorrir.
As pessoas são manhosas. Quando a gente as admira um pouco, elas acreditam que a gente vai ser abatida pelo raio ou ser apanhada pelo demônio revolucionário. Não lhes vem à cabeça que a gente julga segundo o que se vê. Não se perguntam nunca se são admiráveis ou não.
Meu pai é como todo mundo, não logra nenhum modo de vida há dois mil anos. Ele não é pior que ninguém. O pai de Ágata, minha melhor amiga, é de um outro gênero; bonito, moderno e musculoso. É o mais atrevido que conheço. Ficou milionário de um golpe. Possui um avião privado com banheiro a bordo. Eis porque alardeia convicções políticas as mais esquerdistas. Eis o que se chama em psicanálise uma compensação. De outro lado, para se gabar dos reacionários e encorajar os criadores de impérios do poder, encontra-se em geral com velhas senhoritas pobres, ou comandantes reformados em propriedades que caem em ruínas. Educam crianças no grande salão, após ter queimado os derradeiros móveis. Em suma, mentem todos mais ou menos.

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