Recém-premiado em Cannes, m São Paulo e com o Oscar por Tiros em Columbine (2002), que trata de um massacre realizado por crianças numa escola, Michael Moore forma a linha de frente dos dissidentes norte-americanos, normalmente raríssimos. Afora Noam Chomsky, Gore Vidal, Susan Sontag, Ralph Nader, quem já ouvira falar de mais algum? Agora, o movimento pacifista que condena a invasão do Iraque multiplicou as vozes a se elevarem em protesto.
Autor de vários livros e filmes, este gordo bonachão, de andar bamboleante e joelhos varos, que enverga invariavelmente um boné de beisebol com a aba sobre os óculos, é um praticante da desobediência civil. Até há pouco, nosso autor tinha apenas dois alvos, o desemprego e a armamentismo; ultimamente arranjou mais um, o "presidente" George W. Bush, de cujo título jamais retira as aspas.
Após as invectivas na cerimônia do Oscar e um clipe contra a guerra, eçe volta a prometer chumbo grosso. Seu documentário mais recente rendeu quinze vezes o que custou, e os investidores se engalfinharam para financiar o novo projeto, Fahrenheit 9/11, sobre as conseqüências do atentado ao World Trade Center. Mel Gibson saiu vencedor da disputa com sua produtora, a Icon. A ser lançado antes das eleições presidenciais de 2004, o filme vai fazer campanha contra a reeleição de Bush.
Stupid White Men – Uma nação de idiotas tem na mira as contravenções de colarinho-branco, contando logo de saída como se maquinou a falcatrua que levaria o perdedor à presidência. Depois, dá-nos a radiografia de quem é quem na gangue que se apossou do governo dos Estados Unidos. Mostra como os direitos humanos são erodidos por um sistema que beneficia os milionários, enquanto mingua o atendimento à saúde e o desemprego avulta. Por seu turno, a instituição educacional vem preparando mais incompetentes e semi-analfabetos, enquanto o racismo persiste sob disfarces insidiosos. Uma visita aos bastidores da coleta seletiva do lixo revela como a reciclagem se destina a tapar os olhos da população, enquanto o ar e a água continuam a sofrer com a poluição permanente que, à falta proposital de medidas, engorda os lucros industriais. Os políticos não passam de uma caterva de asseclas da plutocracia; para compensar, assiste-se à proliferação das penitenciárias, negócio sinistramente em expansão. E ainda mais, muito mais: eis Michael Moore em sua melhor forma, esgrimindo com desassombro a arma que elegeu – o riso.
Walnice Nogueira Galvão
O provocador cultural Michael Moore, norte-americano de 48 anos, é documentarista, escritor e roteirista de TV. Entre seus filmes, destacam-se Roger and Me (1989), The Big One (1997) e o premiado Tires em Columbine (2002), todos documentários. Além de Stupid White Men – Uma nação de idiotas, Moore escreveu Downsize this! (1997) e Adventures in a TV Nation (1998). Para a televisão americana escreveu, dirigiu e apresentou os programas TV Nation e The Awful Truth.
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